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sábado, 14 de novembro de 2009

Conto de uma noite


-- É, acho que é esse apartamento mesmo.
Saí da portaria do prédio de minha amiga e pensei em ir ao cinema. Afinal de contas, hoje é sexta-feira!
Mereço sair um pouco, depois de uma semana tensa e desorganizada como a minha.
Fui ao shopping. Estava passando “500 dias com ela”. Assisti ao filme sozinha, comendo um
sanduíche com suco de morango que adoro! Era para ser uma sexta-feira como tantas outras pelas quais passei em minha vida, só que com uma diferença. Estava sozinha. Só no sentido literal da palavra. Mas nem notei que estava sendo observada. E seguida...
Esta realmente não seria uma sexta como as anteriores.
Ele me observava como uma águia observa uma gaiola. Estava pronto para dar o bote final.
O filme terminou e eu não chorei dessa vez, pois o amor sempre tem uma segunda chance. Pelo menos, é isso que falam os filmes e as pessoas que nunca tiveram a oportunidade de perder o seu amor!!!
Estava sendo observada desde o momento em que entrei naquele maldito shopping center. Isso é o que acho. Até que me provem o contrário, foi essa a impressão que tive do indivíduo.
Nunca nos vimos, tenho certeza disso. Mas ele me olhava como se me conhecesse faz tempo... O que os olhos dele queriam me dizer? Não sei...
Comecei a sentir meu peito palpitar num ritmo frenético, louco, incessantemente incessante. Estava com medo! Razão tive para isso! Afinal, quem era aquele indivíduo que me filmava por todos os lugares que eu caminhava?
Pensei em rezar, pedir a Deus que me livrasse de todo mal, amém! Ele continuava me seguindo, me filmando, me observando. Cada passo que eu dava era registrado em seu celular. Comecei a suar frio. Que sensação estranha estava experimentando ali.
Em meio a uma loja e outra, enfim, ele conseguiu me alcançar.
--Te conheço. Você pode não se lembrar de mim, mas eu me lembro muito bem de você. O que faz aqui sozinha?
Fitei bem no fundo dos olhos dele. Olhei-o profundamente antes de responder qualquer coisa,
lembrando-me de um email que recebi um tempo atrás, ensinando como reagir diante de um suposto estuprador. Olhe-o nos olhos! Truque infalível. Ou quase..
--Quem é você para falar assim comigo? Eu o disse.
--Eu? -- ele riu ironicamente. Cínico! -- Eu sou alguém que te observa. Um admirador. Está com
medo de mim, Bianca?
Não o respondi e continuei olhando a vitrine de uma loja. Me assustei quando ele disse meu nome. Nunca o vi antes!!! Pensei que se eu gritasse, ele poderia sacar uma arma e me matar ali, entre uma loja e outra, e eu seria capa de uma manchete de jornal no dia seguinte. Não. Não era esse o fim que eu pleiteava para mim. Pensei em morrer de câncer, romanticamente acolhida pelos meus familiares e amigos mais íntimos ou então por uma picada de abelha no meio de uma reserva ecológica, mas com um tiro cravejado no peito (ou nas costas) dentro de um shopping, numa sexta-feira? Realmente, não era esse o fim que eu sonhei...
--O que você quer comigo? Sexo? Tem camisinha aí? Porque se não tiver, eu compro! Não tem problema! Sou uma mulher moderna e gosto das coisas muito certas. Vai que eu te passe uma hepatite? Ou uma DST? Vai arriscar, cabra? -- Tentei levar a coisa na brincadeira. Na verdade, levei a brincadeira a sério. Sabe lá o que esse cara queria mesmo de mim...
--Não é isso, Bi. Fique calma...
--Quem disse que eu to nervosa, coisinho? Como sabe meu nome? -- Tive coragem de perguntá-lo.
--Você mesma me disse. Não lembra?

Ele deve ter pego o papelzinho do pagamento do meu cartão de crédito quando paguei o suco ou o sanduíche...
-- Olha aqui, eu não estou afim de prolongar esse papo. Quer dar o fora?
--Você me quer aqui, eu sei disso... Não foi à toa que eu apareci em sua vida.
--Está pronto para ver o que é que a baiana tem?
Com todo tom de brincadeira que tentei dar àquele papo, estava soando muito. O suor escorria pelas minhas pernas. Fui levada para o estacionamento. Entrei no carro desse estranho que nem ao menos o nome sabia. 

O que estou fazendo, meu Deus? Me diga! Não tomei nada diferente a não ser o suco de morango... Ai ai...
Que carrão! Uau... Ele até que não é fraco... Simpático o cabra! Meio calvo, óculos de grau, blusa de manga comprida, bem alinhado, sapatos copiosamente limpos. Um sujeito bem aparentado. Só por um detalhe. Eu não o conhecia.
Do shopping para o lugar que ele me levou, demorou cerca de uma hora, com o engarrafamento. Tocava música clássica em seu carro. Não sei exatamente de quem eram as músicas, só sei que um delas, me deu uma sensação de poder, de êxtase, uma coisa estranha... 

Ele me levou para uma casa. Já era noite. Acho que dez da noite. Meu celular descarregou. Fiquei incomunicável com o mundo. Éramos somente eu e ele. Ele me ofereceu um drinque. Eu aceitei. Bebemos em silêncio. Ele me admirava como um colecionador de peças raras admira uma poltrona do século XVIII. Seria eu mais uma peça em seu quebra-cabeça?
Estava muito atenta a tudo. Bebi pouco. Observei muito mais do que ele supunha.
Caminhava para a meia-noite. Avisei-o que precisava ir embora, que tinha filho pequeno e que me esperava em casa. Mentira. Ninguém me aguardava, estava livre para amá-lo e matá-lo qual uma abelha rainha.
--Fique mais um pouco. Te esperei por tanto tempo...
--Não posso. Há uma criança que me aguarda em casa. O que vou dizer a ele pela demora?
--Você nada vai dizer, porque o amanhã não existirá.
Pensei em me matar quebrando a garrafa do vinho que estávamos bebendo. Pensei em matá-lo também, mas somente pensei.
Adormeci. Não lembro o que houve de fato. Só lembro que acordei em minha cama, completamente molhada de suor e bêbada com o vinho vagabundo que bebi sozinha na noite passada acompanhada de um litro de Cocacola.

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